domingo, 14 de março de 2010

Imobilismo político e crescimento económico do pós-guerra a 1974

Durante a Segunda Guerra Mundial, Portugal assumiu uma posição neutra, o que permitiu a sobrevivência do regime salazarista ao qual, nem o início da guerra colonial, a doença que atingiu o ditador e a sua substituição, foi capaz de pôr termo. No entanto, o país não soubera acompanhar o ritmo económico das nações mais desenvolvidas e via-se atrasado em relação à Europa. Este desfasamento que se começou a viver, levou à estagnação do mundo rural e à emigração.



Fig.1 - O mundo rural.


Apesar das campanhas de produção dos anos 30 e 40, o país agrário continuava sobrepovoado e pobre, com índices de produtividade que, em geral, não atingiam sequer a metade da média europeia. Existiam, por isso, alguns aspectos que deveriam ser revistos:

  • o redimensionamento da propriedade, que apresentava uma profunda assimetria Norte-Sul ( no Norte predominava o minifúndio, que, pela sua pequenez, não permitia a mecanização; no Sul estendiam-se propriedades imensas, que, de tão grandes, se encontravam subaproveitadas);

  • a situação dos rendeiros, uma vez que mais de um terço da área agrícola era cultivada em regime de arrendamento precário e, por isso, pouco propício ao investimento.
Elaboraram-se, então, planos de reforma consistentes, que tomaram como prioridades a exploração agrícola média, fortemente mecanizada, capaz de assegurar um rendimento confortável aos seus proprietários e, assim, contribuir também para a elevação do consumo de produtos industriais. Mas, tal como tinha acontecido antes, os latifundiários do Sul oposeram-se a estas medidas, utilizando a sua grande influência política para as inviabilizarem. As alterações na estrutura fundiária acabaram por nunca se fazer e a política agrária esgotou-se em subsídios e incentivos que pouco efeito tiveram. Finalmente, na década de 60, quando o país decidiu investir na via industrial, a agricultura viu-se rotulada como um "caso sem solução".

Mas as dificuldades não se fizeram sentir apenas na agricultura portuguesa; a população também se encontrava desagradada com o rumo que o regime estava a tomar. Enquanto que, nas décadas de 30 e 40, a emigração reduzira-se drasticamente devido à Grande Depressão e, se seguida, à Segunda Guerra Mundial, nas décadas que se seguiram ocorreu um crescimento demográfico intenso que, sem escoamento, sobrepovoou o país, originando um excesso de mão-de-obra que a economia não foi capaz de absorver.



Fig. 2 - Emigrantes na estação de comboios.


Esta pressão demográfica resultou numa vaga imensa de emigrações dos campos, quer em direcção às cidades do litoral, quer, principalmente, para o estrangeiro, o que tornou a década de 60 o período de emigração mais intenso de toda a História de Portugal. As pessoas eram atraídas pelos altos salários do mundo industrializado e evitavam o recrutamento compulsivo para a gerra de África, para a guerra colonial. A população de emigrava era principalmente constituída por trabalhadores em actividade (pequenos agricultores, trabalhadores familiares do sector primário, assalariados) e provinha de todo o país, sobretudo das regiões do Norte e das ilhas.

Rumavam em direcção à Europa e, em menor escala, às Américas do Norte e do Sul. Os principais destinos eram França e Brasil. Mas, mais de metade desta emigração fez-se clandestinamente, pois havia muita rigidez no que tocava à documentação que o indivíduo devia ter para sair do país, tal como certificado de habilitações mínimas e a exigência do serviço militar cumprido. A saída "a salto" de Portugal tornou-se, então, a opção de muitos portugueses. No início dos anos 60, o Estado procurou salvaguardar os interesses dos emigrantes, estabelecendo acordos com os principais países de acolhimento, com o intuito de obter as regalias sociais e a livre transferência, para o país, das remunerações amealhadas. Passou a receber um montante muito considerável de divisas, as remessas dos emigrantes.

Estas remessas contribuiram em muito para o equilíbrio da nossa balança de pagamentos e para o aumento do consumo interno, já que o dinheiro enviado às famílias aumentava o seu poder de compra. Tal facto, induziu o Governo a despenalizar a emigração clandestina e a suprimir alguns entraves. A emigração era um sinal de pobreza que diminuiu o número de trabalhadores no país, contribuiu para o envelhecimento da população e privou do normal convívio com as famílias um grande número de portugueses. Para o Estado, no entanto, foi um factor de pacificação social e de equilíbrio económico, que permitiu ajustar o mercado de trabalho e fez entrar volumosas quantias.



Fig. 3 - O emigrante português.

Mas o contacto com outras gentes e outros mundos mundou também as mentalidades e abalou seriamente as velhas e gastas estruturas rurais sobre as quais repousava o imobilismo do regime. Talvez o vento mudasse de direcção...

2 comentários:

  1. estava muito bom ! utilizei para estudar para um teste de 12º .... obrigada.

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